Pedro Grilo não é o único transplantado a marcar presença em competições lá fora e a fazer do exercício físico um mote para agarrar e aproveitar a vida com todas as forças. O médico-cirurgião José Fragata, veterano na realização de transplantes em Portugal – já foram mais de 300 corações -, recorda-se bem do dia em que Sandra Canha chegou ao seu consultório com uma lembrança da Tailândia. “Eu vim cá dar-lhe a medalha, porque foi o senhor que a ganhou”, lembra o também diretor do serviço de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa. Na altura, a jovem tinha acabado de participar nos Jogos Mundiais de Transplantados, na vertente de ciclismo, que se realizaram em Banguecoque. Poucos anos após ter recebido um transplante de coração, pelas mãos de Fragata, Sandra Canha queria sentir a vida a pulsar. Uma competição no estrangeiro, mesmo que a participar por “brincadeira”, era o evento ideal para dar uso ao novo órgão que havia recebido.
O exercício físico esmoreceu na pandemia, reconhece Sandra Canha, aos 47 anos. O medo de ser infetada pela covid-19 voltou-a para dentro de casa. Os doentes transplantados são imunodeprimidos, o que significa que as bactérias e os vírus podem ser mais perigosos, porque o sistema imunológico dos utentes está alterado. “Sempre fui muito de fazer caminhadas”, aponta. Está agora empenhada em ir para o ginásio e a mover-se como antes. O médico assim a aconselhou. “Uma pessoa que tem um transplante tem uma responsabilidade muito grande, porque aquele órgão que foi para ela poderia ter ido para outra pessoa”, defende José Fragata, que realça a importância de fazer “exercício físico regular” após um transplante. “Mas não precisa de fazer desporto de competição”, acrescenta.